sexta-feira, 30 de abril de 2010

Declaração de amor

Quero tua luz no apagão do sol
Quero tua voz em orquestra sinfônica
Quero tua gota em naufrágio sem bote
Quero teu e-mail em relâmpagos virtuais
Quero teus kilometros por hora na via crucis da alma
Quero teus livros em biblioteca de sims
Quero teu labirinto em sonhos de Dedalus
Quero teu resultado em quedas da bolsa
Quero teu discurso em horário eleitoral
Quero teu android em filme do futuro
Quero tua multidão na estação da Sé
Quero tua miséria em favela queimada
Quero teus efeitos em cinema 3D
Quero tua censura em meus olhos cubanos
Quero tua grife na passarela da moda
Quero tua sopa em inverno inglês
Quero tua tempestade na terra do sol
Quero tua terra na sola dos sapatos
Quero tua rima adocicada em poema amargo
Quero teu establishment em outdoor luminoso
Quero tua razão em racionalidade louca
Quero tua coreografia de índio no programda de domingo
Quero tua canção tecnocrata playback no show ao vivo
Quero tuas receitas faladas todas as manhãs
Quero a mídia como porta voz de sua rebeldia
Quero teu circo cheio de espetáculos divertidos
Quero teus heróis em gibi da Marvel
Quero tua fogueira sacrificando os pagãos
Quero tua criança chamando pela mãe
Quero te ouvir ver sentir e dizer
Quero que ressuscite em 3 dias uma extinta emoção
Quero que os cientistas não desvendem o seu amor
Quero que tenha um vestido de 40 mil na sua estatua de cera
Quero que seja o som do cello da minha cabeça
Quero que seja uniforme da minha escola privada
Quero que seja a minha coca cola retornável de volta a minha geladeira
Quero que seja as 200 paginas em branco do meu bestseller premiado
Quero que seja o outro tom da minha banda
Quero que seja o vento em ambas as asas
Quero que seja o meu teamoprasempre@gmail.com
Quero que seja a saída mais perto do incêndio no prédio
Quero que seja minha moeda estável minha coroa e a minha cara
Quero que seja o programa que vende produto pra parecer que tem 10 kilos a menos da minha TV
Quero
teu
céu
em
noite
estrelada
Só isso e mais nada

Quem Espera Sempre

Espera a pêra escorregar pela boca
Espera o pior passar por outra parte
Espera pra dizer pra ela o que se passa
Espera repetir o raio da manhã toda manhã
Espera poder esconder o oeste do leste
Espera escapar pela espinha da vida
Espera espirrar o vírus espião pra lá
Espera escrever um livro extraconjugal
Espera é áspera e funda e explosiva
Espera carona pela estrada sem mapa
Espera a era dos que enganam o mar
Espera o guerreiro perder a espada
Espera por todos os que não sabem voltar
Espera por lados que a lua não brilha
Espera partir o sol antes do por
Espera sair o grito antes da dor
Espera cair do galho o beija flor
Espera falar mais alto que o girassol
Espera correr pra longe do vendaval
Espera ganhar a grana pro apartamento
Espera encher o tanque pra sair de casa
Espera piorar o tempo pra dançar na chuva
Espera pedir piedade ao nosso senhor
Espera dizer a verdade em cinzas de cidade
Espera o que foi ser o mesmo agora
Espera fazer de novo a surpresa
Espera acender a luz pra abrir os olhos
Espera acender o fogo pra queimar o dedo
Esperar abrir a jaula pra morder o leão
Espera entender o caminho pra perder o rumo
Espera ruir o templo pra fazer a prece
Espera trazer o gato pra sentir o queijo
Espera uivar pra lua pra raiar o dia
Espera imitar os deuses bebendo vinho
Espera olhar pra trás pra seguir em frente
Espera partir o pão pra vendar o cristo
Espera amar o próximo pra matar o filho
Espera sentir a luz dos olhos do inimigo
Espera dormir a vida pra sonhar a morte
Espera fingir de cego pra atravessar a rua
Espera ganhar um carro na formatura
Espera hoje a visita de amanhã
Espera jantar de velas sob a luz da lua
Espera lavar os pratos sem gastar água
Espera Zé não desiste dessa não
Espera cair de quatro pra dizer que é gato
Espera voltar as costas pra ter certeza
Espera bater o sino pra aceitar o vazio
Espera nadar no mar pra pular do navio
Esperar girar o mundo pra sair do lugar
Espera fazer os planos sem jogar o dado
Espera limão no pé de laranja seco
Espera trazer o que partiu de si
Espera quebrar o vidro pra pedir a bola
Espera sala de estar em casa vazia
Espera imaginar pra colorir a folha
Espera o céu te encher de estrelas
Espera o único sentido em espiral pular do prédio perder altitude quebrar o braço mudar de idéia ligar desmarcando pedir desculpas e se perfumar
Espera
Espera espia e para

Dois estranhos com algo estranho em comum

Um é infeliz e o outro sabe rir
Um fala demais e o outro tem razão
Um nas nuvens e o outro pé no chão
Um grita desafinado e o outro canta mal
Um bebe muito e o outro fuma pouco
Um tem chapéu e o outro não tem sapato
Um escreve certo e o outro é linha torta
Um sempre volta e o outro nunca saiu
Os dois
Sonham em jogar pela janela a porta

os seus eternos-instantes

um dia é outro do outro que um
dia foi o mesmo do outro dia
naquele buraco fomos
roídos pelo relógio
no meio do peito
que aspirou
a semana de pó no carpete
não passo do teu passado
meus passos de hoje
não chegam
a nenhum
amanhã
um ano dois três décadas
e nunca vão parar
o deserto no
jardim do
tempo
a cada minuto milésimos de sentidos
golpe de segundos à queima roupa
Outra hora seremos capazes
de entender tudo o que
faltou ontem ecos no
tempo não queimam
não jogam moedas
apenas escrevem
sempre esta
historia

intermi
navel
men
te

até
o fim
de todos
esses dias

o que esta amando agora ?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pêndulo

Deixe um bilhete
Pra eu te esquecer esta noite
Sem olhar pra trás
Estátuas de sal que ficam
Enquanto seguimos perdidos
Trilhando caminhos
Você gritou meu nome
Mas já era tarde
Meus ouvidos meus olhos de sombra e luz
já estavam inquietos ásperos e pregados na cruz
Siga o caminho em direção aos mares remotos do coração
Onde os olhos pingam no chão
Onde o corpo volta pro chão
Onde não se tem mais o chão nem os pés
Na mesa de um bar perto da estação
A cada trem que passa
Chega alguém que pode iluminar o seu mundo e o meu
Deixamos de lado os caminhos cruzados
E sejamos felizes já que chegamos a acreditar
Quando o sol sobe a lua desce
Só quem permanece é o mar
Imune incerto inflexível e imortal
E nos sonhos uma voz continua a gritar

Azul no Branco

Quando nada acontece

Eu sei que vai ficar

O vazio que é o vazio de sempre

De todo lugar

Quando tudo acontece

O dia amanhece

E a noite esquece

Do sonho de trovões e formas impossíveis

Dos cacos de céu das nuvens queimadas

Nas folhas rabiscadas de azul até a tinta acabar

E o que sobra ?

Só o bom e velho vazio estelar

Que sempre esteve lá

Em silêncio sentado batendo os pés ouvindo jazz

Sempre sempre

No mesmo lugar de antes

Só que agora me sorri

E conta elefantes

terça-feira, 27 de abril de 2010

The End

Hoje veio o apocalipse
As trombetas trovão desafinado e ruído de radio mal sintonizado
A face de Deus entre nuvens uma forma indefinida desenho animado e abstrato sem cor
Difícil de ver o formato e os detalhes do rosto
Teve quem olhou com óculos 3D
Um anjo cinza ferro velho chegou até o quintal
Voz enlatada péssima dicção estridente
Mal pude entender o que dizia
Apocalipse ultrapassado
Sem eco sem dolby surround digital
O de Hollywood
É mais indicado pro nosso final

Partindo daquilo que vem depois

Aço mental fincado no pé
Movimento pura identidade de um sol corrosivo
Leões pedras páginas nuvens estrelas moscas blecautes sóis e pores
Dançam compulsivamente
No salão de festas e no porão de metas
Da minha mente

Só uma estrela só

Entre as nuvens soltas camufladas na noite
Só uma estrela
Nessa imensa escuridão de rio corrente e estradas
Só uma estrela
Pros insones poetas famintos e iluminados
Só uma estrela
Pros que esperam algo cair sem mais nem menos do céu
Só uma estrela
Pros que olham pra cima antes de fecharem os olhos e sonhar em paz
Só uma estrela
Pros fantasmas que vagam de bar em bar atrás de um corpo
Só uma estrela
Pra todos os anjos e preces esquecidas
Só uma estrela
No olho no vento na alma do furacão
Só uma estrela
No lado escuro do coração que brilha
Só uma estrela
No azul desbotado da bandeira
Só uma estrela
Depois de um longo longo dia
Só uma estrela
Pras árvores que buscam expandir a si próprias
Só uma estrela
Pra noite que não está pra estrela deste tamanho
Só uma
Acima do mar de luzes infinitas

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aves de arribação

Um passo e passo
Pé no chão das pedras
Até as nuvens

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sem Nome

No caderno guardo
tua voz

Tua boca nos meus
ouvidos

Estrondo em brancas
paginas

Lugares distantes
dentro de linhas

Toda letra
olha nos olhos

Em segredo
vê o elo

Entre o invisível
e o não-existo

Todo abismo
começa nos olhos

Falência de
todos os santos

A tua cidade
vazia sem sol

Pronta para a
ruína

Que vem lenta
em passos leves

Qual o sinal ?
Saberás quem és pelo beijo que transborda o silêncio

do teu

olhar

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Desejo-vos boa noite

Sonhos casuais
não mandam cartas
esquecem e saem pela cidade
com um sorriso pálido de quem desistiu
com um céu sem luz sem lua sem céu
com os olhos apagados numa estrada escura
dizendo que a liberdade
é mais um palito de fósforo que se queima e fim
é mais um poema que queimo aqui
quem me dera cinzas sem respostas
encherem de sol os meus pulmões
e clarearem o caminho para os deuses.
No coração do viajante
existe o alto da montanha numa noite de alcançar estrelas
vento gelado por toda a madrugada
e uma cabana
sem frio

terça-feira, 20 de abril de 2010

Vem pelo vento que ninguém sabe a direção

Quando da árvore dos poetas de fogo e céu uma folha invencível cai diante da escura imensidão da maioria silenciosa paira por toda a eternidade sobre os escombros de uma civilização devastada e o vento faz com que ela atravesse nossos caminhos num sopro cheio de alegria e esperança em dias em que o sol desiste de iluminar

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Para um livro sem alma de estrelas abissais

Em algumas horas da vida deve-se sonhar com o que foi perdido no movediço deserto escuro da impossibilidade humana e uivar para a lua que jamais te escutara.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mayday

Lucyfer In The Sky With Diamonds

Acabo de ler o jornal, acabou o dia assim, o sol sempre se põe quando isso acontece. Um dia será diferente, eu vou me pôr diante do sol. Fim da brincadeira, a vida é coisa seria, serial killer, por um kilo de salsicha no almoço vale qualquer tarefa. Segue o foco, segue a fé no fogo, ardendo por dentro, transformando em azul tudo o que toco. Uma vez toquei o céu e nunca mais ninguém o tocou. Hoje uma garota tentou me dar veneno, quase que eu aceito pensando que era contra o vírus da influenza H1N1. Existem oportunidades únicas na vida e o resto é coincidências.

Respostas, escolhas e vertigem

Um dia vou saber
Onde acaba o céu e começa você
De tantas descobertas
Um vasto mosaico
De coisas que não fiz
Procurar o que esta perdido
Sem saber o que fazer
Querer me tornar um deles
Ferir e proteger
Tudo assim como vem
Esquecer o que estar perto
Lembrar pra desaparecer
Contagem regressiva
Pra nada acontecer

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um grão de areia

Um grão de areia
Fez desabar a duna
Pela praia inteira
Convidou a onda
Pra passear pelo mar
E tomar sorvete
Esse grão ainda é a inspiração
Pra muita cantoria de sereia
Imagina
O que não fariam dois grãos de areia

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Um lugar no mundo

Deve ter caído em sono profundo
Esqueceu da rosa, do povo,
Do jardim e do fim do mundo
Inventou qualquer segredo
Gritou tanto que chegou ao silêncio
Pegou o osso, a bolha e a virtude
Cantou em coro e em comum
Ou quem sabe estará numa ilha deserta
Fazendo um duo para um

Assim é, se lhe parece

Pra que serve uma paisagem
Quando tudo que vejo
Parece tanto com a sua miragem

Até quando o motor aguenta ?

O primeiro
No primeiro olhar
O terceiro
Nas terceiras intenções
O quarto
Só no quarto
O quinto
Vai pro quintal
O sexto
Faz sentido
O sétimo
Como na sétima série
O oitavo
Parece outono
O nono
É mono
O décimo
Um décimo
De segundo

terça-feira, 13 de abril de 2010

Além-mar

Esqueci de girar
Em torno do sol
Era engano
Errei o plano
Deu branco
Menti pra mim
De bola parada
Disse: ninguém, ninguém
Escrevi até queimar
E vem agora
O mergulho pra aprender a nadar

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Estilhaço de Rondó

Antes tarde do que garoa
Agora te vejo
Na terceira pessoa

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vê só

De coração e de portas eu bem entendo
Você entrou e trancou a porta por dentro

terça-feira, 6 de abril de 2010

Opus Night

Bebeu
Brindou
Brincou com a mulher errada
Passou 12 dias sem lembrar de nada

Dicionário I

Turvo:
Uma palavra estranha
Meio curva
Meio corvo

O Velho do Banco

Ele parou pra olhar a lagoa
Pássaros, sonhos e pessoas
Longe de toda a sorte e de todo o azar
E o mundão não parou de correr
Até as árvores foram viajar
Enquanto ele
Nunca mais foi visto em outro lugar

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Amores turvos

Cada palavra no seu passado
Turn on Turn Off ofuscados
Durante a noite inteira
Caídos e calados
Aff mas o que se pode fazer
Não resta nada
Só eu e você
E o Horóscopo do dia
Amanhã muda tudo
Quem sabe até
Essa palavra
Turvo

domingo, 4 de abril de 2010

Mosca sem asas

O que se faz
Pra mudar
Além do mute

O que te fez
Ficar sem ar
Além do muro

Tudo que fiz
Sem pensar
Foi só
Um murro
Parado
No sinal de STOP

O céu nos olhos

Só vou abrir a janela
Quando o sol raiar
Deixo a noite passar frio
Do lado de fora
O amanhã sempre chega
Cedo ou tarde pra chiar
Com suas cores e bandeiras
Só vou abrir a janela
Se o sol quiser entrar
Deixo o clarão esperar
Do lado de fora
Amanhã olho pra lá
E vejo o que os dois
Ao se encontrarem
Inventaram de pintar

Fio de Ariadne

No mês de abril
Te encontro nos perdidos e achados
De olhos fechados

meio gordo

To sem paz
Se você for atrás
Me traz da Petrobrás

meia cara

Estou sem eu
Se você for ao museu
Traz um pra mim

meia luz

Estou sem coração
Se você estiver no chão
Procura um anticorrosão

Carta de abril

Viu já é abril
Escrevi uma carta
Mas o pombo sumiu

Eu quero que você venha comigo

Acabou o filme
Agora é terra firme
Onde eu piso
Ta liso pra ilusão
A cada passo
Eu pego o passado do chão

meias palavras

To sem fim
Se você for sair
Traz um pra mim

meia lua

Estou sem lua
Deixa pra mim
Se não quiser a sua