segunda-feira, 25 de outubro de 2010

carta aos carteiros

Imagine meu sol
Assine meu tempo
Falta muita lenha na fogueira
Use minhas calças
Corte minhas cordas
Tenha mais dinheiro na esteira

Escreva uma rua
Esqueça o futuro
Sonhos nos deixaram só
Solte minha pele
Seduza o muro
Regue minhas nuvens com pó

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Avenida Purgatório

Não haverá nenhum fechamento quando todos os caminhoneiros desiludidos e desprezados jogarem suas mentes na lagoa dos prazeres sem culpa sem pecado nenhuma placa passagem livre pra escolha de sua liberdade

Atropelarão os senadores distraídos ao atravessarem a rua da justiça em seus ternos de desperdício pagos com as moedas do povo nos templos de horas semanais enquanto olham pro céu em suas manobras e pedem votos

E que todos os astros divinos e urubus no acostamento interpretem mal cada palavra ressoada nas canções alteradas em ecos de dissintonia destas bocas sujas de molho fino enquanto passam fome em goteiras de esperança quatro paredes e um pedaço de papelão sem chegar perto da migalha jogada pelo País do futuro

Enquanto suas Barbies de diamante transam com seu cartão de credito de carro conversível e uma vaga garantida na melhor faculdade do faça fácil planejando viagens sem rumo onde não há pedágios nas calçadas pros que querem escapar do trânsito

E suas tropas de guardiões armados de ódio e pressão queimando maconha queimando dinheiro querendo impor a lei que lei ? quem é lei ? de quem ? pra quem ? a nossa lei é farinha pouca meu pilão primeiro do mais é licenciamento

A contaminação não respeita sinalização soam as buzinas do apocalipse altos ruídos que cortam nuvens e asfalto abaixam o vidro e mandam cartas e espalham seus sinos de guerra pelo próximo diante da luz vermelha neste cruzamento de corpos enlatados com o pouco que lhes restam

Ainda decretarão numa segunda-feira prisão perpetua por estupro dos reboques de Jesus e de todas as mãos iluminadas que lutaram para avançar poucos metros nesse trânsito caótico sem nada em troca falando aos porcos sobre almas de anjos

Até lá serão pisados e degolados estudante que forem picados pela tarântula da loucura e se tornarem pedras em seus pneus exigindo o que têm por direito e que pode ser feito mas é impossível o possível em transe impossível em breve essa carreata será imbatível flutuará pelos desertos como lagartos

Muitos são os silêncios que espreitam no muro sem mostrar os olhos encarando tijolos na espera do tapa que virá e que venha o tapa que revidem o tapa que sejam o tapa dos que deliram fascinantes por marchas dos soldados israelenses em gaza

Libertarão os presos políticos libertarão a política libertarão Cuba libertarão a liberdade deixando a pista livre pra quem quiser acelerar seu espírito em direção ao infinito onde na vida em horário de pico não se alcança com os corações e nem com farol alto

E todos os direitos humanos na sua capacidade máxima de tração proclamados e os não falados não escritos não ousados serão transformados em água limpa saltando dos cofres da pureza com a velocidade dos que são livres não dando a mínima.

trânsito que impede o mergulho dos afogados na superfície trânsito que existe dentro dos seres trânsito trânsito sem fim trânsito líder de povos trânsito entre mentes e corações nestas incontáveis distancias de trânsito entre olhares trânsito de palavras no pisca alerta trânsito acumulando medo nas faixas trazendo mais trânsito só existe o trânsito acenda uma vela para o guarda de trânsito façam suas preces para o semáforo estamos todos inutilizados no trânsito da impossibilidade seca

TRANSITO EM MIM
TRANSITO EM MIM
TRÂNSITO

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

o que se vê e o que se inventa

Tem prédio que se esconde atrás de arvore só pra ficar ali
Atrás da pedra tem um barco e um mar
e se eu procurar melhor até uma ilha desapercebida

Atrás da rede tem uma tarde e mais além tem um sonho
Quando eu olhei atrás da pipa tinha um sol
e atrás do sol outra pipa e outro sol até que não pude acompanhá-los

Virei a folha e lá estava uma estrada
A folha tem margens separadas que na estrada se juntam lá no fim

Atrás do pouco tem o infinito
Escondido esperando o esquecimento ou um presente de aniversario

Dentro do sorriso cabe um hipopótamo
Embaixo da formiga cabe um mundo inteiro
Tem coisa que se esconde
Pra gente inventar

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Convite

Gotas dançam
Em volta da utopia
Chamam
Chuva

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quero

Eu só queria acordar e ter um sol brilhando ao lado esperando o meu despertar noturno
Eu só queria acordar e receber uma ligação sobre um emprego de mil reais de segunda a sexta com cesta básica
Eu só queria acordar e ter um sonho antigo correndo pelo quintal e latindo para os outros
Eu só queria acordar e assistir Deus passando num programa de TV a cabo sem ser payperview
Eu só queria acordar e não ver nenhum fanático matando nuvens pelo céu
Eu só queria acordar falando inglês fluentemente pra poder assistir a volta do messias sem legendas e entender suas piadas
Eu só queria acordar e freqüentar um comando organizado para estudar gramática e aprender as normas do jogo dos trapaceiros
Eu só queria acordar e não precisar rezar absolutamente nada no caixa do banco depois de uma fila de vinte fiéis
Eu só queria acordar e imprimir os acordes que não saem da minha cabeça pra tocar no violão pras moscas
Eu só queria acordar e ver que alguém realmente descobriu o Brasil numa manhã de sábado de pouca roupa e muito ouro
Eu só queria acordar e ouvir no radio sobre uma nova descoberta de vida em outro planeta que saiba como nos salvar deste
Eu só queria acordar e ter a sombra da liberdade que realmente estendeu as asas sobre nós e esta voando num novo caminho
Eu só queria acordar e ir pra biblioteca mais próxima e não ter nada que me impeça de levar Rimbaud pra ler no sofá de casa
Eu só queria acordar e começar a contagem dos meus diplomas durante a manhã inteira me perder e recontar
Eu só queria acordar e arrancar do calendário a folha que termina com a era do impossível
Eu só queria acordar e ouvir os vizinhos conversando sobre atentados no vaticano que não deixaram igrejas sobre pedras
Eu só queria acordar e esperar os peixes morderem a isca antes de ser lançada enquanto ainda esta nos meus pensamentos
Eu só queria acordar com os gritos de alegria dos tocadores de gaita da rua com um aumento endollarado na aposentadoria
Eu só queria acordar e ler e-mails prestigiando meu trabalho invisível de desconhecidos com nome e sobrenome
Eu só queria acordar e ir almoçar na praça num almoço sagrado realizado pelos moradores do bairro para todos os moradores do bairro
Eu só queria acordar e dar de cara com uma pilha de livros do Leminski com um bilhete - para você de Alice Ruiz
Eu só queria acordar com meu guarda chuva numa tempestade de primavera glacial que não foi dada na previsão do tempo dos telejornais
Eu só queria acordar ao som da campainha na hora da entrega de um premio qualquer por qualquer coisa que eu tenha feito num dia sem nada o que fazer
Eu só queria acordar abrir o Word e digitar com dedos de arte e delírio um livro inédito de um autor desconhecido
Eu só queria acordar pegar minha esperança e trocar na feira por dois quilos de tomates
Eu só queria acordar e confundir o mundo real com a realeza depois de ter por perto uma coroa que não seja de espinhos
Eu só queria acordar e ler as noticias de quebra cabeças e não desanimar com o que andam amontoando por ai
Eu só queria acordar e ter meus planos escritos nas paredes do quarto com rabiscos de foram realizados
Eu só queria acordar andar na avenida dos sapatos perdidos e dar esmola ao primeiro sábio de farrapos sujos e barba que eu encontrar dizendo – Eu posso ser você ao acordar
Agora
Vou dormir

Última canção inocente

A palavra já não é amor
A lua clareia cheia de cor
Ao se mover pelas estrelas quentes
Foi perfeito o encontro de mentes

Nunca afundei tão calmamente
O sono é leve e resplandecente
Fecho os olhos como uma criança
Sem ver o mundo queimar na lembrança

apartamentos de papel

Sonhas com teu silêncio
É apenas o infinito a olho nu
Em caminhos desgovernados
Passo a passo
Pra quase outro lugar
Nada muda
No mesmo instante de
Fim
E recomeça içando a terra
Até nascer o sol dentro de ti

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Primavera de plástico

Deixar de ser febre pra ser fabricado
Teu deus trovão por um trocado
Dormi na oca errada acordei derramado
Era uma historia clara na corda bamba
Rock sob medida pra vender samba
Moça perdida em baixo da cama
Qual será a próxima obra prima
gritando que me ama ?

Din Dong

Os versos desta cidade se apagaram
No deserto de todos nós

Os santos desta cidade despencaram
Despencaram do nono andar

Os velhos desta cidade se esqueceram
Do futuro que estava ali

As luzes desta cidade se confundem
Se confundem com seus olhos

A raiz desta cidade enferrujou
Enquanto estava distraído

Os olhos desta cidade se cegaram
Por inveja do que o outro via

O sangue desta cidade jorrou
Mudando a cor deste céu

A boca desta cidade foi costurada
Pelos trilhos do metro

Os sonhos desta cidade estão ocupados
Sendo o lucro do patrão

Os campeões desta cidade estão vendendo
As medalhas no farol

As revoltas desta cidade fazem um som
De campainha no portão

Os dias desta cidade estão pregados
No calvário do planalto

As aves desta cidade não trazem asas
E não gorjeiam coisa alguma

Os demônios desta cidade oferecem
Novos dias novos sonhos

Os aplausos desta cidade

Amputados

Silenciam

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A fruta da pedra

Quantos cegos fazem o sublime
Teimosos
É mais sem importância

Formigas
Uma arvore e um quintal
Passarinho
Cor do vento e um céu

Antes pedra
Que toda hora

Carlitos
Uma bengala e uma cartola

domingo, 10 de outubro de 2010

Velho morto de fome querendo ser escritor

Conto os centavos
Pra descontar do seu diário
Mais um pedágio
Pro seu amanhã empoeirado
Com quantos hojes
Se faz um ontem ?

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Incolor

Incolor


De barba branca
Ainda verde meu futuro

trem das cinco

Por falar em futuro
Sussurros a solta
Entre o trem e as pessoas

qualquer hora

Construir pra esquecer
Chover pra se por
Cair pra mergulhar

Nada me é tanto
Até ficar tonto
Tantas tentativas
Talvez
Mais tarde eu anoiteço

nada ou quase nada

Nada existe em mim
Cheio até a borda
De tudo vazio

Nas horas vagas
Olho pro teto
Até as nuvens

gotas em fila

Fila na parede
Formigas passam
Chuvarada chega

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Já fomos

Eu sou como você
Na ponta do garfo
Nos dentes da inviabilidade
Daqui
Estrelas dançam
Outra canção sem motivo
Em homenagem a todos nós
Por não estarmos
A um passo
De tudo
Minha cabeça
Desce rolando
Em direção ao futuro
Perdido em pleno rumo
Paro e espero a lesma passar
Enquanto derreto-me
À sombra
Nenhuma voz
Som ou senha
Aqui se vai
A escassa esperança
Dedos da mesma mão
Minha inutilidade
Outros olhos
Suas crenças

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Poema sobre nada

Essa fronteira em vão
Todas as coisas em dessaber
De todas as coisas
Todas desúteis
Palavras sem idioma
Delirar em cada verbo
Apesar do Habito
Aqui,ali ou acolá
Desertos Intocados
Sem lugar pra chegar
Futuro dos primórdios
Avançar até o começo
Tudo tem o que não tem
Na minha casa passa uma avenida
Que eu inventei
sem nenhum porque
Não há mais que isso
Dito e esquecido
Noutros tempos
Último minuto
Em pores
De sois
Pra nada

Arcaico

Quem ama
Amanhece com sol
Em dia de
Noite

O astro pulou o horizonte.

Hoje
Não passa disso
Dia nublado
Até amanhã

Amanhã
Dia de chuva

Depois
Dia sem dia

Até o dia
Em que o sol
Lembrar o caminho
De volta pra casa

E queimar sozinho
No topo do céu

Voar além das asas

Chegar pra partir
Quase passado quase preciso
nuvens dançam ao longe
perto dos pássaros
Para o chão que se pisa
Longe é o céu
Minhas mãos não alcançam
Mergulham as cores na parede
E toda tinta
Vira arco-íris pra lagartixa

eternamente velho

Quem tem medo ?
O tempo é tudo
Nos olhos do tempo
A janela pro futuro
No fundo da alma
A chuva faz lama
Eu tenho um plano
Mesmo com o passar dos anos
Porque velho é o tempo
Eu sou novo
Eternamente novo
Com os pés descalços
Correndo pelo quintal
O tempo tem dois ponteiros
Apontados pro sol
Como flechas
Apagam o dia
E começa a noite
Em cada estrela um ponto do tempo
Que escreve as horas, os minutos e os séculos
E nós
Apenas contamos

domingo, 3 de outubro de 2010

Velha máquina de costura

Da janela
enquanto tempestadiava
Enfrentava monstros
disfarçados de árvores
Salvando o mundo
Até o horizonte
Do mais desconhecia
Vento forte nas folhas
e seus tentáculos quase
me atingiam
Vamos escrever um livro
Sem nenhuma pontuação
E tomar limonada
Adoçada com a alegria guardada
Nos tacos soltos deste chão

sábado, 2 de outubro de 2010

Ainda fim

Uma vez depois outra
Quantas mais
Masmorra
Cada escolha um escombro
Da ruína pesando
No ombro
No céu da pátria neste instante
Planos de vôo
Planos de governo
Queda e ascensão da mesma cova
Quem é a solução ?

Tanto pra você
Quanto pra mim

Ah se todo voto fosse assim